
Guaraçaí
Tatiana Cestari
Hoje, o Correio do Noroeste conta a história da mãe e promotora de vendas, Daniela Cristina Suave, 36 anos e da única filha, Júlia Suave Pin, 9 anos, de Guaraçaí. Segundo afirma a mãe, ela e a filha, são a prova de que milagres existem e, já colecionam ao menos três, vividos pela pequena guerreira.
Esta não é uma matéria curta, que possa ser contada em poucas frases, já que envolve diversas passagens, pessoas e dias de dor, mas também de vitória e graças alcançadas.
O que chamou a atenção da reportagem foi que, durante toda a entrevista, com várias pausas e em meio à momentos de extrema emoção e choro, relembrando tudo o que viveram, Daniela sempre falou sobre o problema enfrentado pela filha, no plural, usando o termo ‘nós’. Como se ambas fossem uma.
Daniela conta que, a primeira experiência de milagre, com a Júlia, ocorreu no parto.
“Tive uma gestação tranquila. Era casada com o pai dela (Rudinei Pin, 41 anos) e morávamos em Araçatuba. Num certo dia, comecei a senti dores e fui para o hospital dirigindo. Numa unidade de saúde que passei antes, havia sido alertada que estaria em trabalho de parto. Após avaliação do médico, ele pediu para duas estagiárias de enfermagem me preparar para a cesariana, já que a Júlia não estava na posição para um parto normal. Foi quando iniciou meu desespero. Até hoje não entendo o porquê, mas uma delas sentou na minha barriga para tentar forçar um parto normal. A última coisa que me lembro, é que gritei, vi o médico entrando na sala e desmaiei. Quando voltei, já estava no centro cirúrgico e rapidinho a Julia nasceu, por parto cesárea”, revelou Daniela.
A promotora de vendas relata que, após ter a certeza que a bebê estava bem, agradeceu por tudo ter terminado sob as benção de Deus.
“Sempre fui temente à Deus. Então, em voz alta, apresentei minha filha ao Senhor, , confirmando que ela era dEle, e não minha. Sempre tive essa relação de humildade com Deus”, disse.
Daniela conta que, 16 dias após o parto, vivenciou o segundo milagre da filha, quando descobriu que a menina tinha refluxo. “Após amamentar a Júlia, a coloquei no berço e deitei para dormir. Mas, um tempinho depois acordei com a sensação de ouvir alguém me falando: ‘vai para o berço’. Quando me aproximei dela, vi que estava roxinha e uma bola que parecia de chiclete, saindo pelo nariz. Foi quando essa mesma voz me orientou como deveria fazer, para salvar minha filha, colocando ela de barriguinha para baixo e dando leves tapinhas nas costas, como se fosse uma massagem, impulsionando para frente. Após três tentativas, ela desengasgou e chorou. Ajoelhei, rezando e agradecendo. Mas aí me dei conta que não havia ninguém, além de nós duas, em casa. Era Deus falando comigo!”, contou.
A mãe cita que, após o procedimento, por volta das 3 horas da madrugada, foi até o hospital, para a bebê ser avaliada e ter certeza que estava tudo normalizado e, desde então, Júlia jamais apresentou problema algum de saúde. Nem mesmo uma dor de cabeça.
O GRANDE MILAGRE
“Sempre foi costume meu e da Júlia, rezar antes de dormir e, desde o episódio do refluxo, ela passou a dormir na minha cama, comigo. Ver minha filha rezando e clamando à Deus, é algo lindo. Ela não reza apenas o “Pai Nosso” e “Ave Maria”, por exemplo. Somos católicas e, como mãe temente à Deus, sempre falei sobre manter essa intimidade com Nosso Senhor, da mesma forma que fui criada pela minha mãe, agradecendo e colocando os joelhos no chão”, mencionou.
A promotora de vendas conta que, na noite do dia 23 de outubro de 2023, ela e a menina viram em uma reportagem, na televisão, sobre a invasão à Israel, que falava de uma mulher grávida, que havia sido estuprada e morta, por homens do Hamas.
“Quando fomos dormir e orar, ela chamou minha atenção para rezar por Israel, mas principalmente por aquela mulher. Ela falava mais ou menos assim: ‘Senhor, não sei o nome daquela mulher, mas ela é minha irmã. Assim como sou sua filha, ela também é. Te entrego a alma daquela mulher’. Foi lindo ver uma criança tão preocupada com pessoas que estão do outro lado do mundo e se compadecer com aquela dor”, diz.
Daniela fala que, mal sabia que na manhã do dia seguinte (24), a história de milagres de ambas, teria o terceiro capítulo.
“Quando fui levantar da cama, ela acordou e deu um grito, falando: ‘mãe, pelo amor de Deus, não me deixa morrer’ e, passou a gritar muito e falar que iria morrer de tanta dor na cabeça. Coloquei a primeira roupa que vi e sai correndo para o hospital de Guaraçaí. Lá fomos atendidas pela dra. Dulce (Sueko Tsutsuomoto da Silva). Ao questionar Júlia, onde doía, minha filha apontou o local na cabeça, atrás da orelha. Então a médica percebeu a seriedade do quadro e, de imediato acionou uma ambulância, encaminhando a gente para o hospital de Mirandópolis. Antes de chegar em Mirandópolis, minha filha foi travando o pescoço, em seguida os braços, os dedos das mãos, pernas, pés, até que ficou totalmente paralisada”, relatou.
A mãe conta que, em Mirandópolis, a médica que as recebeu, também entendeu a gravidade e administrou morfina (com autorização da mãe), para amenizar a dor. “Ela tomou entre cinco e seis doses do medicamento e com muita dificuldade, devido ao quadro clínico dela, passou por uma tomografia. Eu chorava mais que a Júlia”, contou.
Na tarde daquele mesmo dia (24 de outubro), saiu o resultado da tomografia, tendo Daniela sido preparada pela médica pediatra, para ser forte, uma vez que a situação da criança, era grave.
“Ela disse que a Júlia tinha Síndrome de Chiari 2, que é uma má formação, ocorrida durante a gestação. Ainda avaliou que, a única solução seria uma cirurgia que duraria, aproximadamente, 20 horas, com risco da minha filha ficar paraplégica ou até morrer. Dei um grito e caí de joelhos. De imediato apareceram várias pessoas para me abraçar, dar água e tentar me acalmar. Num primeiro momento comecei a questionar Deus, mas nos minutos seguintes, ainda ajoelhada, passei a agradecer pela descoberta do que a Júlia tinha, e por ter nos sustentado até ali. Então pedi para que Deus não soltasse nossas mãos”.
Daniela resolveu ir até o lado de fora do hospital de Mirandópolis, quando viu uma árvore e então, como se estivesse ali, abraçada com Deus, chorou e rezou, pela vida da filha, agradecendo tudo o que ele já havia feito na vida de ambas. Já mais calma, voltou para o interior da unidade hospitalar e, resolveu não contar para a menina sobre o que estava ocorrendo, poupando-a, até enquanto fosse a hora certa de revelar tudo.
A promotora de vendas mencionou que, ao voltar a falar com a pediatra, pode entender o que era a tal má formação de Chiari 2. “Ela explicou que, essa síndrome pode causar infarto, em função da extrema dor na cabeça. Mas ressaltou que, a urgência no atendimento à Júlia, a salvou. Revelou que, meu socorro imediato e as doses de morfina, foram fundamentais para salvar sua vida. Claro que a mão de Deus age em primeiro lugar, colocando as pessoas certas no nosso caminho, que são anjos, na nossa vida”, enalteceu.
Após tentativas de conseguir uma vaga em um hospital público, para a cirurgia, Daniela relatou que voltou para a mesma árvore, que segundo ela, transformou em seu santuário. “Clamava à Deus, para nos guiar para onde estivessem os melhores médicos, que fossem usados por Ele. Não pelo fato de serem os mais renomados profissionais, mas seriam instrumentos do Senhor Deus”, lembrou.
Já era 23h do dia 24, e nenhuma vaga aparecia. “Em Guaraçaí, a Laís Marani (hospital), a Jaqueline de Freitas (secretária Municipal da Saúde), o José Luiz de Freitas (prefeitura) e o prefeito Airton Gomes, que acompanharam todo o processo, me dando suporte, começaram a intervir. A Jaqueline ligou para o diretor da Santa Casa de Araçatuba, pedindo para que eles aceitassem a transferência, que enfim foi autorizada. No dia seguinte (25 de outubro), fomos para lá, numa ambulância UTI. Vários outros exames foram realizados”, revelou Daniela, que fez questão de citar as intensas orações dos pais Maria Aparecida Miranda Suave, a Preta e Olímpio Suave Filho; dos familiares; amigos e diversas outras pessoas, que, mesmo não tendo convivência com elas, se uniram num mesmo propósito, independente de religião, levando pessoas de Guaraçaí, Mirandópolis, Andradina e outras cidades, à mesma intenção. Inclusive, os pedidos de orações, invadiram as redes sociais, sendo compartilhados por centenas de pessoas.
Daniela, movida por mais um momento de emoção, conta que, de forma milagrosa, Júlia começou a movimentar os dedos das mãos. “Naquele momento fui ganhando força espiritual imensa, vendo tantas pessoas na fé, pela minha filha, por nós, que dentro de mim passei a confiar que ela não iria precisar da cirurgia, para se curar. Deus iria operar na vida dela, antes. Nos dias seguintes, foram repetidos todos os exames e os movimentos delas aos poucos retornavam. Eu só agradecia e renovava minha fé, afinal, via Deus agindo e se manifestando”, salientou.
A DECISÃO
Já era o terceiro dia que mãe e filha estavam internadas no hospital de Araçatuba. Os médicos haviam falado com Daniela, que a cirurgia seria marcada, mas ela, diante da sua humildade como filha de Deus, era categórica ao dizer que Júlia não precisaria da cirurgia. “Eu soempre repetia que, o médico dos médicos, iria operar, antes”, enfatizou aos doutores.
A promotora de vendas lembra que, naquele dia, já conseguiu tomar banho com a menina, em pé, embora ainda com certa dificuldade. “Antes de dormir, levei a Júlia até a janela, para ver as estrelas e falei que, ali passaríamos a escrever nossa nova história. Choramos, abraçadas. Ela disse que acreditava e confiava em mim e, tinha fé em Deus”, lembrou.
Já no quarto dia, logo cedo o neurologista retornou ao quarto, insistindo para que Daniela assinasse o termo, autorizando a cirurgia. Diante de mais uma negativa da mãe, ele sugeriu que então ela fosse submetida a uma ressonância magnética, do corpo todo, para verificar a atual situação da síndrome. “Fiz questão de falar para ele que, aquele exame iria mostrar que eu estava certa. Que minha filha estava sendo curada. Então fiz jejum junto com ela. Não foi apenas jejum alimentar, mas na fé também”.
“O padre Orlando, que já atendeu na paróquia de Guaraçaí, e hoje está em Mirandópolis, passou o dia inteiro com a gente, contando histórias e fazendo a Júlia rir, sempre tentando animar minha filha. Ele, que me acompanha desde que eu estava grávida dela, quando morava em Araçatuba, foi fundamental”, agradeceu ao pároco.
No quinto dia, após dar banho na menina, Daniela fala que, se ajoelharam e abraçadas, rezaram e cantaram, de olhos fechados.
“Quando abrimos os olhos, levamos um susto e caímos sentadas no chão. Na nossa frente estavam duas enfermeiras, o médico e o técnico que fez o exame. Todos estavam emocionados, pacientemente, aguardando o fim das nossas orações. Não esqueço as palavras do pediatra que, olhou nos meus olhos e falou: ‘Já vi de tudo nesse hospital, mas jamais duas pessoas com conexão tão forte, como você e sua filha. O amor de vocês não precisa de palavras, basta ouvir nas orações’”, destacou.
Daniela lembra que, quando a filha entrou na sala para o exame, ela e o pai da menina permaneceram, durante as duas horas do procedimento, em oração. “Após o exame, ela não se sentiu bem e, todos os funcionários do hospital, vinham dar um oi e palavras de carinho. Sou imensamente grata, por tanto amor”.
RESULTADO
Vinte e quatro horas após, o resultado saiu e, antes do médico abrir o envelope, apenas baixei minha cabeça e falei com Deus, que fosse feita a vontade dEle. Que se naquele papel estive a confirmação da cirurgia, aí sim eu aceitaria, pois aquela seria a resposta dEle. Foi quando o médico abriu o envelope e falou: “É mãezinha, você e a Júlia mudaram meu fim de ano. Vocês vão voltar para casa, ainda hoje. Não é mais preciso fazer a cirurgia”. Ali comecei a pular e agradecer pelo milagre. Então a Júlia acordou assustada, e contei que iríamos retornar para casa. Ela continuava não sabendo ainda a dimensão de tudo o que acabava de enfrentar”, relembra.
“Uma frase da minha filha, me marcou muito foi: ‘Mãe, vou ver o sol de novo?’ Chorando muito, respondi que ela veria o sol, a lua e as estrelas. Que ficaríamos, naquela noite, vendo a lua e agradecendo pelo milagre da vida. Não haveria mais a janela impedindo a gente de contar estrelas”. Foi um momento inexplicável, de intenso amor e gratidão”, recordou.
Somente depois de um tempo, já em casa, Daniela explicou para a menina, tudo o que passaram juntas.
AGRADECIMENTO
Desde o resultado positivo e mais tranquilas, mãe e filha já passaram por igrejas católicas de Guaraçaí e Mirandópolis, assim como também em igreja evangélica, levando o testemunho de fé, amor, esperança e gratidão, à Deus, pelo livramento.
“Quero deixar um alerta aos pais. Quando verem as crianças ou adolescentes reclamando de tontura ou dor de cabeça, de forma repetitiva, não ignorem, pensando por exemplo, que é o calor, como eu achava. Pode ser a má formação de Chiari, que pode causar infarto, em função da forte dor na cabeça. A medicação correta na veia, salvou minha filha. É preciso procurar o hospital ou um neurologista. O exame de ressonância revelou a doença”, destacou.
Daniela conta que, às vezes, a Júlia sente tontura, mas isso fará sempre parte da vida dela, porém, o pior ficou para trás, explicou a mãe que, orientada pelo médico, levará Júlia, para acompanhamento anual, em um neurocirurgião pediatra.
Questionada pela reportagem, se os médicos que acompanharam o processo final da criança, explicavam o que poderia ter acontecido, para o quadro dela ser revertido.
“Eles falam que a medicina não explica o resultado positivo e final da minha filha. Mas para mim e tantas outras pessoas, foi um milagre de Deus”, citou.
“O tempo todo, minha filha me fala o quanto é grata à Deus, por sua vida, repetindo a frase: ‘toda honra e glória à Deus’. Já para mim, como mãe, não consigo descrever em poucas palavras, a gratidão que tenho. Às vezes pensamos que, mesmo havendo tanta gente nesse mundo, Deus escutou as nossas orações. Isso é um privilégio. É um sentimento indescritível, o amor de Deus”, concluiu Daniela.
SÍNDROME DE CHIARI
De acordo com informações do site neuricirurgia.com.br a malformação de Chiari é um defeito estrutural no crânio que faz com que parte do cérebro seja empurrada para o canal espinhal, bloqueando a passagem do líquido da medula. Acomete o sistema nervoso central do paciente. Médicos suspeitam que seja causada durante a gravidez e pode estar ligada a problemas genéticos que ocorrem na família, falta de nutrientes na dieta ou infecção. A dor de cabeça é o sintoma mais comum. Casos graves requerem cirurgia.